Estou completando 22 anos de casado. Que a felicidade conjugal não é um estado permanente, como
induziam os contos de fadas com o clássico final de “viveram felizes para
sempre”, todos aprendem rapidamente na primeira relação amorosa real que
vivenciam. A questão que se coloca aqui é a de questionarmos os poetas que tanto
falam de amor, para sabermos quantitativamente por quanto tempo se é feliz
conjugalmente. Com este estudo queremos saber se o estado de felicidade ocorre
na maioria dos dias ou se, ao contrário, o refrão “felizes para sempre” se
refere à minoria dos dias de nossas vidas afetivas em comum.
Definida caracterização
genérica do nosso campo de pesquisa, é preciso estabelecer os parâmetros que
identifiquem a população alvo para a aplicação do “questionário” de coleta de
dados. De acordo com a sabedoria popular, que tem seus fundamentos em
experiências seculares da humanidade (e os estudos psicológicos conjugais os
confirmam), há notoriamente uma chamada “crise dos sete anos” em que muitos
casais se separam e outra crise aos dez anos de convívio. Para fins práticos
vamos adotar como parâmetros do estágio de adaptações e instabilidades do nosso
grupo de estudos os casais que tenham entre sete e doze anos de relacionamento
afetivo-amoroso.
Deste objeto de
investigação selecionamos um grupo mais restrito para aplicarmos o instrumento
de coleta de dados, o qual consistia em anotar diariamente numa planilha como
cada um avaliava o seu dia de convivência conjugal, segundo os critérios
sistematizados. A pesquisa se desenvolveu ao longo de quatro meses (16
semanas), buscando agregar um perfil bem significativo do comportamento médio
dos casais.
Como resultado da
aplicação deste instrumento, pudemos quantificar dois aspectos
inter-relacionados que constituem a sensação de felicidade conjugal, quais
sejam, o humor e a sexualidade do casal. No aspecto do humor, constatamos uma
média de 28% dos dias como em estado de repulsão, 35% como dias neutros e 37%
como dias em estado de harmonia e atração conjugal. No aspecto da sexualidade
verificamos uma média total de 24 relações sexuais por casal no período, o que
implica uma média de 1,5 relações
sexuais por semana, sendo que em 70% dos
atos sexuais houve orgasmo tanto masculino como feminino, e em 30% houve apenas o orgasmo masculino.
A conclusão deste
ensaio ficcional de monografia sobre a felicidade conjugal contrariou a
hipótese inicial, resultante da sondagem expedita que indicava que o
relacionamento afetivo do sujeito da investigação apresentava 3 dias ruins e 3
dias regulares para 1 dia ótimo na semana. Verificou-se que esta relação está
bem mais equilibrada, havendo um ligeiro predomínio da quantidade de dias
neutros (35%) sobre os dias de repulsão (28%) e, principalmente, invertendo a
hipótese inicial, com a predominância dos dias felizes de atração (37%) sobre
os demais estados de humor da relação afetiva. Verificou-se que a relação
conjugal é quase de um dia ruim, para um regular e para um ótimo.
Por fim, voltamos à
questão colocada inicialmente, de se saber quantitativamente por quanto tempo
se é feliz na vida conjugal, isto é, se o estado de felicidade ocorre na
maioria dos dias ou se é ao contrário. O clássico “felizes para sempre” constatamos
que não se realiza na maioria do tempo, pois que se verificou que a felicidade ocorre
em 37% dos dias. Mas a questão inicial também não pode ser respondida como se a
felicidade ocorresse na minoria do tempo, cerca de um terço dos dias apenas. Seria
preciso considerar a perspectiva do estágio seguinte das relações, o do amor serenamente
eterno. Nesse estágio, para o qual todas as relações longas se dirigem
inexoravelmente, os estados neutros de humor não constituem sofrimento e logo
não podem ser computados como o oposto da felicidade.
Portanto, nesta perspectiva
a longo prazo, estatisticamente os dias felizes realmente passam a ocorrer na
maioria no tempo da vida conjugal, o que justifica metaforicamente o encantado final
feliz: E viveram felizes para sempre...na
trilha dos ajustes intermináveis que levam ao amor serenamente eterno.
A Mulher do Poeta está no Brechó, espie aqui!
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