terça-feira, 13 de maio de 2014

É, DEBAIXO DO TAPETE VOADOR

            É, inevitavelmente, chega um momento na relação em que todos os percalços do caminho, acumulados na memória emocional, provocam um estado de cansaço tal que, diante da menor dificuldade, assumem proporções instransponíveis. Então é chegado o momento de evitar-se os questionamentos daquelas questões rotineiras, repetitivas, que sabidamente vão deteriorando a relação lentamente, mas que quando questionadas à fundo passam a deteriorar a relação rapidamente.
          É chegado, pois,  o momento de selecionarmos as questões estratégicas, que necessariamente têm que ser questionadas, jogando as demais picuinhas  para debaixo do tapete. Então, é chegada a hora de reconhecermos a importância do tapete, recurso este que julgávamos extinto no universo de uma saudável e transparente relação afetiva contemporânea. Neste momento chega-se à constatação que a transparência integral entre duas pessoas é demasiadamente estressante em sua manutenção. Chega-se a conclusão de que é chegado o momento de sermos seletivos qualitativamente, por não termos mais fôlego para enfrentarmos quantitativamente todas as questões que provocam pequenas crises na rotina de um relacionamento afetivo. Os ajustes necessários para a convivência amorosa de duas consciências são infindáveis.
É, então, chegado o momento crítico, divisor de águas: de um lado os suspiros saudosos da fase da paixão, quando podemos mover montanhas alegremente; do outro lado a expectativa de um autêntico amor serenamente eterno e sem as hipocrisias das gerações dos nossos antepassados. É chegada, pois, a hora de aprendermos a gerenciar a existência do tapete de modo a transformá-lo de Lixão em Aterro Sanitário, tratando seus dejetos biologicamente, no tempo certo, sem deixar que o chorume  contamine a nossa natureza. Reciclados, estes dejetos podem resultar em fertilizantes que regenerem a paisagem de nossas relações afetivas degradadas.
É chegada a hora de nos permitirmos varrer o que não é essencial para debaixo do tapete, mas para debaixo de um tapete dotado da capacidade de voar. É, um tapete voador, como nas lendas, que ao invés de ser um pântano de problemas camuflados, passa a ser um meio poético de transporte, no devido tempo encantado, para o longínquo país da felicidade conjugal continuada.

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