É,
inevitavelmente, chega um momento na relação em que todos os percalços do
caminho, acumulados na memória emocional, provocam um estado de cansaço tal
que, diante da menor dificuldade, assumem proporções instransponíveis. Então é
chegado o momento de evitar-se os questionamentos daquelas questões rotineiras,
repetitivas, que sabidamente vão deteriorando a relação lentamente, mas que
quando questionadas à fundo passam a deteriorar a relação rapidamente.
É chegado, pois,
o momento de selecionarmos as questões estratégicas, que necessariamente
têm que ser questionadas, jogando as demais picuinhas para debaixo do tapete. Então, é chegada a
hora de reconhecermos a importância do tapete, recurso este que julgávamos
extinto no universo de uma saudável e transparente relação afetiva
contemporânea. Neste momento chega-se à constatação que a transparência
integral entre duas pessoas é demasiadamente estressante em sua manutenção.
Chega-se a conclusão de que é chegado o momento de sermos seletivos
qualitativamente, por não termos mais fôlego para enfrentarmos
quantitativamente todas as questões que provocam pequenas crises na rotina de
um relacionamento afetivo. Os ajustes necessários para a convivência amorosa de
duas consciências são infindáveis.
É, então, chegado o momento crítico, divisor de águas:
de um lado os suspiros saudosos da fase da paixão, quando podemos mover
montanhas alegremente; do outro lado a expectativa de um autêntico amor
serenamente eterno e sem as hipocrisias das gerações dos nossos antepassados. É
chegada, pois, a hora de aprendermos a gerenciar a existência do tapete de modo
a transformá-lo de Lixão em Aterro Sanitário, tratando seus dejetos
biologicamente, no tempo certo, sem deixar que o chorume contamine a nossa natureza. Reciclados, estes
dejetos podem resultar em fertilizantes que regenerem a paisagem de nossas
relações afetivas degradadas.
É chegada a hora de nos permitirmos varrer o que não é
essencial para debaixo do tapete, mas para debaixo de um tapete dotado da
capacidade de voar. É, um tapete voador, como nas lendas, que ao invés de ser
um pântano de problemas camuflados, passa a ser um meio poético de transporte,
no devido tempo encantado, para o longínquo país da felicidade conjugal continuada.
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