quinta-feira, 17 de julho de 2014

# BOM SENSO FUTEBOL CLUBE NA CBF JÁ!

A Copa do Mundo acabou com um fiasco da seleção, mas calma que o circo no Brasil continua, agora com as eleições. O que aprender com o “padrão Fifa”? Nada. Restou-nos o gosto amargo de derrotas por goleadas e algumas arenas como elefantes brancos na Amazônia, Pantanal e Brasília. Locais com estádios onde não há times, onde só tem cartolas fazendo mágicas de desaparecimento do dinheiro público nas empreiteiras que patrocinam as eleições. O que aprender com a organização de base dos alemães? Nada. Nunca pudemos nem pensar em aprender alguma coisa sob a dinastia mafiosa de dirigentes do quilate internacional de João Havelange & Ricardo Teixeira, que chegou a presidir a própria Fifa, e agora os seus sucessores José Marin & Del Nero.
Enquanto a entidade “CBF” dos alemães, os campeões da copa do Brasil, é considerada a instituição mais confiável e eficiente do país, mais confiável do que o parlamento e o executivo da Alemanha;  a nossa CBF consegue ser, de goleada, mais desacreditada que os políticos do Congresso Nacional e governantes brasileiros. O que fazer? Os cargos destes dirigentes são praticamente vitalícios, duram até que algum escândalo de corrupção recomende a tática de mudar de nome para continuarem as mesmas falcatruas de sempre. Nem mesmo os presidentes dos grandes clubes reunidos no “Clube dos 13” conseguiram abrir uma brecha nessa estrutura corrompida de poder.
O movimento dos jogadores de futebol, o Bom Senso Futebol Clube, reivindica direito a voto nas eleições das federações e na Confederação (http://www.bomsensofc.org/ ). Seria um bom começo os jogadores serem os protagonistas da democratização destas entidades, pois são os verdadeiros atores deste mundo dos espetáculos que rende fortunas de dinheiro para a  logomarca “CBF”, empresa privada que tem o monopólio de explorar os símbolos nacionais (bandeira, cores, hino) e a paixão do povo  brasileiro pelo futebol.
A CBF tem isso tudo de mão beijada sem prestar contas e sem dever explicações pra ninguém, nem pro tribunal de contas. Isso precisa ser mudado por lei. Fala sério, povo nenhum merece ficar dependendo que o fuleco do Marin decida demitir o arcaico técnico Felipão do time de um homem só (Neymar), e decida quem contratar como novo treinador; como se o problema fosse só esse. É deprimente.
 #BOMSENSOFUTEBOLCLUBENACBFJÁ!

terça-feira, 27 de maio de 2014

Quando Avançar é Recuar

            Avançar é o curso natural do rio em sua nascente, o rio quer vivenciar todos os recantos e paisagens antes de se espraiar em um lago calmo e sereno ou, quiçá, num agitado e amplo oceano. Da mesma forma é a natureza dos relacionamentos amorosos na sua nascente da paixão, quer ocupar todos os espaços, movimentos, pensamentos, lembranças e sonhos.  Mudar o curso natural dos elementos, tanto geológicos como humanos, é uma obra que exige domínio técnico, não só de engenharia e psicologia, mas principalmente das potencialidades erosivas dos meandros dos fluxos da vida no tempo.  Reter o avançar do rio significaria exercer com determinação a nossa inteligência emocional para reprimir, nas cheias do amor nascente, as inundações vazantes para fora do leito planificado, bem como os desvios do seu curso natural. Para tanto, é preciso que se tenha domínio de parâmetros norteadores de limites e de direção em nossa bússola emocional.
         O paradoxo é que só o extremo senil do rio conhece o seu estuário destino, onde sedimentará todo o material que arrastou pelo caminho. Por sua vez, o extremo nascente do rio acredita que quanto mais novos caminhos abrir mais material terá para depositar no seu delta final, para o qual certamente todos os meandros convergem, sem saber aonde nem como. Assim, avançar no fluxo da correnteza da emoção é um estado compulsivo de ser e estar, é só surfar na onda. Todavia, apesar de toda esta apologia do Avançar, quero realmente tratar das dificuldades do Recuar contra o fluxo do rio após as inundações e os desvios de rota normais já terem ocorridos.  De como o ímpeto da paixão cria hábitos de convivências intensas, de como os hábitos de convivências criam necessidades e de como estas criam dependências, isto tudo já é um mecanismo de desvios conhecido por todos. Entretanto, após detectado o desvio, estando de posse dos parâmetros a serem corrigidos pela nossa orientação emocional, é preciso não apenas nadar contra a correnteza, mas também ir represando o fluxo, o que é muito difícil. Se fosse fácil não haveria tantas vãs tentativas e tantos divórcios relâmpagos.
             Para represar o fluxo de um relacionamento em fagocitose (um engolindo o outro), muitas vezes é preciso recuar de casados para o mecanismo de convivência dos namorados, e até de namorados recuarmos para o estágio de amantes eventuais. Esses recuos estratégicos são geralmente feitos com trovoadas e tormentas, pois há o medo de que queiramos recuar para o período em que desconhecíamos que o outro existia, e que isso seja feito com as tempestades e tufões que anunciam o fim de tudo. Geralmente nessa fase de se “Recuar nas Rotinas Diárias”, os vazios e os sentimentos de rejeição são inicialmente monstruosos, mas aos poucos passamos a nos liberar para ver os aspectos positivos deste desgrudar-se, de ter uma rotina solo, própria, mesclados equilibradamente com dias de rotina em conjunto, cada vez mais valorizados por não serem mais o rotineiro padrão nosso de cada dia.
          Naturalmente que sempre há a clássica recaída, a de se voltar a conviver em todas as rotinas durante todos os dias, atraídos pelos álibis mais variados, sobretudo  pela  carência sexual que também é recuada em seu aspecto quantitativo pelas ausências. Muito embora, em seu aspecto qualitativo, o sexo até melhore  o seu padrão, por se constituir em conquistas e não em rotinas de self-service na cama do quarto de dormir. Claro que também rola aqueles ruídos eventuais e atípicos em que se deseja e não se consegue construir o clima, devidos aos ti-ti-tis de discutir a relação  para inserir a transa sexual na agenda do dia. Mas são questões que são superadas, como fazem os namorados ou amantes: abrindo novas alternativas neste recuo na intensidade da convivência, criando novos espaços para que a intimidade conjugal não caia abaixo da performance sexual crítica e  geradora de carências mútuas na dupla evolutiva. O segredo é saber avançar curtindo o fluxo da correnteza da existência conjunta, mas sempre dosando o recuar para que represe os sentimentos mais profundo destes dois seres,  preservando-os como sendo um fetiche vitalizante do encontro amoroso entre eles. É quando o avançar é recuar.


terça-feira, 13 de maio de 2014

É, DEBAIXO DO TAPETE VOADOR

            É, inevitavelmente, chega um momento na relação em que todos os percalços do caminho, acumulados na memória emocional, provocam um estado de cansaço tal que, diante da menor dificuldade, assumem proporções instransponíveis. Então é chegado o momento de evitar-se os questionamentos daquelas questões rotineiras, repetitivas, que sabidamente vão deteriorando a relação lentamente, mas que quando questionadas à fundo passam a deteriorar a relação rapidamente.
          É chegado, pois,  o momento de selecionarmos as questões estratégicas, que necessariamente têm que ser questionadas, jogando as demais picuinhas  para debaixo do tapete. Então, é chegada a hora de reconhecermos a importância do tapete, recurso este que julgávamos extinto no universo de uma saudável e transparente relação afetiva contemporânea. Neste momento chega-se à constatação que a transparência integral entre duas pessoas é demasiadamente estressante em sua manutenção. Chega-se a conclusão de que é chegado o momento de sermos seletivos qualitativamente, por não termos mais fôlego para enfrentarmos quantitativamente todas as questões que provocam pequenas crises na rotina de um relacionamento afetivo. Os ajustes necessários para a convivência amorosa de duas consciências são infindáveis.
É, então, chegado o momento crítico, divisor de águas: de um lado os suspiros saudosos da fase da paixão, quando podemos mover montanhas alegremente; do outro lado a expectativa de um autêntico amor serenamente eterno e sem as hipocrisias das gerações dos nossos antepassados. É chegada, pois, a hora de aprendermos a gerenciar a existência do tapete de modo a transformá-lo de Lixão em Aterro Sanitário, tratando seus dejetos biologicamente, no tempo certo, sem deixar que o chorume  contamine a nossa natureza. Reciclados, estes dejetos podem resultar em fertilizantes que regenerem a paisagem de nossas relações afetivas degradadas.
É chegada a hora de nos permitirmos varrer o que não é essencial para debaixo do tapete, mas para debaixo de um tapete dotado da capacidade de voar. É, um tapete voador, como nas lendas, que ao invés de ser um pântano de problemas camuflados, passa a ser um meio poético de transporte, no devido tempo encantado, para o longínquo país da felicidade conjugal continuada.

segunda-feira, 28 de abril de 2014

O MUNDO ENCANTADO DOS DEVANEIOS

        No filme Noé (interpretado por Russell Crowe), o personagem bíblico recebe a revelação de que o ser humano se tornou irremediavelmente pecaminoso. Então, Noé (filho de Matusalém, interpretado por e Anthony Hopkins) entendeu que a vontade divina era de que toda a raça humana fosse destruída no dilúvio anunciado. Como membro da raça racionalmente pecadora, Noé foi o escolhido para conduzir a transição do aguaceiro como sendo mero construtor da arca e condutor épico da salvação dos demais seres vivos. Mas inclusive ele e a sua própria família (mulher e três filhos homens) também seriam extintos posteriormente, pois acabariam sem descendentes. 
Esta abordagem do roteiro do filme, baseada no estilo das tragédias gregas, me remontou  aos meus estudos de Nietzsche: “em todos os tempos os sábios fizeram o mesmo juízo da vida: ela não vale nada! Desde Sócrates,  que disse ao morrer: Viver é estar há muito enfermo”. Daí teria se desenvolvido uma espécie de loucura da vontade, que é a crueldade psíquica da vontade do homem de sentir-se culpado e desprezível, sua vontade de crer-se castigado, sem que o castigo possa jamais equivaler à culpa, sua vontade de erigir um ideal, o ídolo do “santo Deus” e, em vista dele ter certeza de sua total indignidade.” 
A propósito, com o cristianismo em baixa e o budismo em alta, tempos atrás   eu estava lendo duas abordagens completamente antagônicas da vida, e estava inclinado a escrever alguma coisa sobre o enfrentamento dos ideais simbolizados na flor de lótus do budismo do Dalai Lama em oposição aos golpes de martelo da filosofia de Nietzsche para destruição de todos os ídolos. Estava mesmo achando que era uma empreitada que iria além da minha capacidade e autonomia de vôo, que era muita areia para o meu caminhãozinho  esta intenção de contrapor a “Compaixão Budista”, base fundamental da doutrina tibetana, com a “Genealogia da Moral” que vai “Além do Bem e do Mal”, do filósofo alemão.
O ascetismo (prática de abstenção dos prazeres) foi o instrumento utilizado por todas as filosofias e religiões para se implementar esta negação da vida com imposições de abnegações penitentes, chegando ao extremo da filosofia vedanta, ainda segundo Nietzsche, que rebaixou a própria corporeidade a uma mera ilusão. Assim, para o filósofo, “a partir desta doença niilista que acometeu a humanidade, de negação da vida, se desenvolveu o grande nojo do homem e, conseqüentemente, como uma função ascética de expiração da culpa pecaminosa de seu existir, se desenvolveu a grande compaixão pelo homem!...Em todas as religiões os crentes são convencidos que a alma se ergue deste corpo e penetra na luz suprema do infinito (no nada) e assume a sua forma própria. Em todas estas religiões pessimistas chama-se ao nada de Deus e a vida é nada.
          
          Como percebem, eu estava como um marisco na concha entre o mar e o rochedo, ao pretender contrapor o tema principal do budismo, que é justamente o altruísmo ascético, baseado no poder da compaixão e do amor, ao martelo destruidor de ídolos do Nietszche, filósofo que pretendia despertar o “super-homem” que diz haver em cada um de nós. Senti-me encurralado principalmente porque eu estava  gostando de exercitar as sessões de meditação na seita da Brahma Kumaris, e estava me identificando com a postura despojada do Dalai Lama, líder budista que centra o seu foco na busca da paz e serenidade no dia-a-dia desta vida, independente se haja ou não um Deus no além do nada nietzschiano.
         Então, entre o budismo e o nietzschianismo, mudei o meu foco de abordagem do tema  e, apesar de continuar ainda como um marisco entre estes poderosos fluxos e repuxos, pensei em contrapor a eles o “Encantado Mundos dos Devaneios”. Considerando que filosofar é pensar de forma sistemática e meditar é não pensar, ou seja, é esvaziar-se do “eu” e integrar-se ao “todo” (ou ao nada do Nietzsche), o mundo dos devaneios é entregar-se à correnteza dos pensamentos aleatórios, sem o eu impor nenhuma sistemática ou raciocínio filosófico ocidental, e sem as rédeas de amordaçamento do eu dos métodos de meditação orientais. Resgato aqui esta prática empírica e intuitiva que sempre tive imenso gosto de exercer, desde a minha mais remota infância, como uma fuga do mundo exterior e um mergulho livre no meu interior. Ás vezes ficava na cama, como ainda fico se não me policiar, por várias horas que voam como se fossem instantes de projeções extra-físicos, em devaneios de olhos fechados, em que o pensamento pulula loucamente desde coisas coerentes e reais até ficções surrealistas e absurdas. O mundo dos devaneios é um estado alfa da mente em que os pensamentos ganham a liberdade dos sonhos e se confundem com eles, de tal forma que ao final não sabemos se nos mantivemos em vigília ou se inconscientemente adormecemos e sonhamos no transcorrer do exercício. É como aquele trocadilho que diz: “sonhei que estava acordado, mas quando acordei para ver, eu estava dormindo”.
          Talvez o mundo dos devaneios encante mas não ajude, nem na evolução espiritual nem na do conhecimento filosófico, mas é incontestável que ele possibilita uma convivência consigo mesmo inigualável. Pois é com esta verdade encontrada que resolvi o meu impasse nos temas que me propunha a contrapor, com uma saída honrosa pelo viés da estética literária, que sempre foi o meu universo de enfocar e compreender a vida. Voltando ao tapete vermelho de Hollywood com “Noah”, não convém contar o final do polêmico filme Noé, pra não estragar a surpresa de quem for assistir. Mas mesmo não havendo nenhum plano divino para a continuidade dos humanos na face da terra, nós continuamos aqui pecando com muito prazer! Sobrevivemos devido às peripécias  humanas ocorridas na Arca de Nóe no transcorrer do Dilúvio cinematograficamente literário, baseado em um histórico devaneio bíblico. 

domingo, 13 de abril de 2014

Agora sou um idoso, e com pouco cabelo.

          Agora eu sou um idoso! Ariano do segundo decanato de abril, acabei de completar os meus 60 anos de idade. Conquistei, com isso, o meu passaporte com o título de “pessoa preferencial”. Ganhei o direito de furar as filas, usar as vagas de estacionamento indicadas com a figura de um velhinho de bengala e simulando dor nas costas, e agora posso andar de ônibus com passe livre de idoso ( sem desertar do Bloco de Lutas pelo passe livre para todos!). Mas, depois  dos sessenta, muitas transformações se processam na alma e  no corpo do ser humano na face da terra e, no meu caso, no humano biologicamente classificado como masculino. As mutações não são restritas aos machos por opção sexual, elas atingem a todos indiscriminadamente e, cada vez mais, atinge aos humanos geneticamente femininos que invadiram todas as praias do gênero oposto, e que agora descobrem na própria pele as contra-indicações e o stress de estar no comando.
          Um dos aspectos mais característicos, por sua visibilidade escancarada, são as metamorfoses que ocorrem no couro cabeludo das cabeças  dos homens nesta fase etária. Dos tantos longos topetes negros tipo Elvis na juventude, são pouquíssimos que chegam a ter topete branco, a maioria perde o topete todo pelo caminho. Passado a fase que “dói cada cabelo branco que nasce”, passam rapidamente pela etapa de que “dói cada cabelo que cai ”, e chegam ao calvário da migração de mechas dos cabelos da cabeça para o ralo do box do chuveiro, que dói todas as manhãs. É o calvário da calvície anunciada.
         A esta altura da vida, o sexagenário certamente já voltou decepcionado de uma primeira consulta ao dermatologista sobre calvície, aos constatar que ele é careca.  Depois ficamos desencorajados ao vermos tanta gente famosa, na televisão e no cinema, que ganha a vida com a exposição pública de sua imagem, que sobrevivem conformadas com o fato de que as perdas dos pelos da cabeça é uma coisa natural da vida. Temos todos que nos submetermos aos ditames do destino e das heranças genéticas, bem como a tantas outras perdas mais graves, além das  perdas estéticas, que a idade vai impondo na saúde do homem comum.
             O ralo do box do chuveiro entope e provoca inundações emocionais tal o tamanho da peruca que reúne toda a semana, enquanto o espelho vai captando a sequência de imagens com mudanças sutis. Mudanças que, por serem infinitesimalmente consecutivas, vão delineando o roteiro de um filme curta-metragem com a câmera fixa em close no topete: do penteado ondulado para trás evolui para um corte lambido para o lado e, no quadro seguinte, já é um penteado para a frente, com uma rala franjinha ridícula evoluindo para uns esparsos fios espalhados para todos os lados  até, Deus nos livre, o último recurso de tentar cobrir o tampo, passando os cabelos lambidos de uma lado para o outro da cabeça. 
           Uma alternativa péssima é a que insiste em lhe oferecer o seu calvo cabeleireiro preferido,  o qual já investiu o preço de um carro novo na implantação de alguns míseros fios de cabelo em sua própria cabeça e que, do alto de sua larga experiência, insiste em querer pintar os seus preciosos cabelos brancos. O cara não consegue entender que o seu  problema não é a cor dos cabelos, é a quantidade deles, e que eles iriam cair ainda mais se sofressem a  agressão de uma tintura artificial. Faz parte do marketing do ofício dele, resista.
Mas, com a grande evolução da bio-genética do novo milênio, ciência que preconiza a realização do clone humano, já é hora de começar a surgir cabeludos dermatologistas velhinhos. Os alquimistas vão chegar já-já com a fórmula da poção mágica que manterá em sua cabeça estes últimos fios de cabelos, vestígio do que foi o seu topete. Mas, se ainda lhe resta um tufo de cabelos frontais, desde já esteja consciente de que estás com um carro novo na cabeça, pois este seria o preço equivalente para implantares esse mesmo chumaço que se mantém heroicamente enraizado nessa sua cabeça já semi-nua.
Agora sou um idoso, e com pouco cabelo (exceto nas orelhas e no nariz, de onde cabelos saem como aranhas da toca)! E não é só a testa que cresce em direção à nuca, com a chegada da andropausa a barriga e as bochechas também crescem como balões murchos, com estrias e rugas. Em compensação, tudo na vida tem suas compensações valiosas: ganhei o direito a pagar meia entrada em cinemas, teatros e shows. Acreditem, vale a pena envelhecer vivo!

terça-feira, 1 de abril de 2014

Porto Alegre: Meu Cais

Estamos finalmente mergulhando nas refrescantes aragens do outono no paralelo 30, depois deste verão de 2014 que foi o mais quente dos últimos trinta anos. Calor que parece querer indicar que ainda teremos muito inferno pela frente para cozinhar no caldeirão do tempo as mazelas humanas por seus desequilíbrios ecológicos.
Quem navegar por esta região do planeta, como fizeram os açorianos, aportará na cidade de Porto Alegre, que em 26 de março passado comemorou seus 242 anos. Cidade que propicia aos seus habitantes a vivência intensa das cores e aromas característicos e diferenciados das suas quatro estações do ano.
 Porto tri-legal,  que enquanto muiiiito lentamente se moderniza em sua infra-estrutura, vai conservando seus valores culturais latino-americanos nas rodas de mates e, sobretudo, busca recuperar os sonhos perdidos, como o da balneabilidade das suas praias e a construção do seu metrô.  Metrópole que se mobiliza com o movimento dos ciclistas por um trânsito mais humanizado; recanto do planeta onde o sol  poente edita a cada dia um novo e maravilhoso cartão postal às margens do Guaíba.
         Porto que acolheu a todos nós, natos ou filhos adotivos oriundos do êxodo rural, à deriva da  perversa má distribuição de renda deste país,  é a cidade onde ancoramos nossas vidas, para onde sempre retornamos, por mais longe que eventualmente naveguemos. É de suas noites frias e de suas tardes calorentas que sentimos falta, bem como de suas manhãs, quando derramando-se em folhas pelos seus parques e florindo multicolorida pelos jardins suspensos de suas avenidas arborizadas. 
         Porto Alegre é o nosso lugar no mundo, lugar que nos identifica e diferencia dos outros povos  do planeta; lugar que define o nosso peculiar ponto de vista, determina a essência dos nossos princípios, do nosso jeito de ser e de viver. Ser portoalegrense é saber  construir sonhos com as próprias mãos, pedra por pedra, como quem constrói um cais, é sentir-se parte das docas do cais desta cidade, é ter-se no peito um porto aberto a todos os navios,  alegres ou não.

domingo, 9 de março de 2014

FRONTEIRAS DAS APTIDÕES

            Faz de conta que havia um Criador, um ser abstrato capaz de criar tudo do nada. Um ser muito criativo, cheio de ideias  geniais para inventar designers de coisas, vegetais e animais... Ouvi esta frase quando eu, nervoso buscava a minha primeira entrevista cobrindo um evento como estudante de jornalismo, me aproximando da mesa onde os palestrantes do Fórum Fronteiras do Pensamento tomavam cerveja e conversavam descontraidamente, dando altas risadas. - Desculpem, senhores. Assisti vocês lá no Fórum, na palestra sobre “Quatro Fronteiras do Pensamento em Debate”, e precisava  fazer umas perguntinhas, não é pra sair em nenhum jornal, é apenas uma tarefa de campo de uma disciplina do primeiro semestre da faculdade de jornalismo...
            Perfeito, exclamou o teólogo que estava falando sobre a hipótese do Criador quando eu cheguei. Vejo que  nos foi enviado pelos céus o mediador para ouvir os nossos argumentos e  ponderar conclusivamente, como sendo uma tarefa de uma matéria jornalística informativa, qual das quatro fronteiras do pensamento representadas nesta mesa apresenta maior utilidade prática para o homem pós-moderno globalizado. Todos pareceram adorar a sugestão e de imediato me ofereceram uma cadeira, quando dei por mim estava sendo o alvo de convencimento daqueles renomados pensadores.
            O palestrante da Fronteira do Ativismo Social já foi organizando o  evento na mesa de bar. - O jovem estudante deverá, ao final do debate, indicar qual a fronteira e o palestrante vencedor, cujo prêmio será o de pagar a conta de toda a mesa, como uma representação simbólica do ônus que terá por ser a solução do mundo. Garçom, por favor, traga mais duas geladas e um sanduíche aberto. Seguiu com a palavra o representante da Fronteira Religiosa do Sagrado que lançou o desafio...
           No início pensei em ir anotando no meu caderninho os principais argumentos de cada palestrante, mas confesso que logo no primeiro orador percebi que eram muitas informações para pouco caderninho, e que me faltaria a rapidez de um taquígrafo para transcrevê-las. Mas quando o representante da Fronteira Científica discorreu sobre o evolucionismo das espécies,  e o representante da Fronteira Filosófica analisou os limites do pensamento humano, e de como os homens tinham criado Deus, então percebi que eles tinham escolhido o mediador errado. Na teoria, um jornalista deve ser imparcial e relatar de maneira neutra os fatos e eventos, nunca julgá-los; muito menos  indicar qual é a melhor solução para o mundo!
          Horas depois, com alcoolizados debates entre petiscos e batatas fritas, todos olharam para mim e perguntaram o meu veredicto. Até tentei demonstrar que tinha captado o essencial de cada fronteira: Na Fronteira do Sagrado, pela lei da causa e efeito, se tudo tem uma causa, qual a causa primeira de tudo?  Retroagindo indefinidamente na série de causas se chegaria ao Criador. Por outro lado, se tudo tem uma finalidade, a vida humana tem a função de prestar contas com o seu Criador no final. Faz algum sentido...
Mas a Fronteira Científica coloca este retroagir na série causal das coisas como uma evolução infindável das espécies, desde os estágios de micro-organismos até aos gigantescos dinossauros, da ameba aos complexos macacos e daí aos seres humanos.  A existência de matéria maciça poderia ser explicada pela ironicamente chamada “partícula de deus”,  surgida logo após o Big Bang criador do mundo, com a capacidade de  aglutinar os produtos subatômicos da explosão, partícula esta  que já está sendo detectada através dos novos avanços tecnológicos. Sondas espaciais rastreiam as fronteiras do universo, descobrindo a cada dia novos planetas em  bilhões de estrelas que indicam a possibilidade de não estarmos sozinhos no infinito espaço cósmico. Somos apenas poeira de estrelas! Também faz sentido...
Por sua vez, a Fronteira Filosófica percebeu, por um lado, que jamais saberemos como as coisas de fato são, pois tudo o que percebemos é mediado pelo pensamento que  é fruto das pré classificações simplificadas feitas pela mente. Do olhar, do tato, do olfato, da audição e do paladar, dos cinco sentidos as informações vão para a mente que processa os pensamentos possíveis de acordo com o banco de dados disponível: é o limite do pensamento humano. O máximo que conseguimos é imaginar o que as coisas são a partir dos dados coletados por nossos limitados sensores. Por outro lado, com o domínio científico da modernidade, filosoficamente o homem matou o deus que ele próprio havia criado para preencher o elo da “causa primeira” que faltava. Mas embora o homem-criador tenha matado a sua criatura-deus com a aceitação e vigência universal da teoria da evolução das espécies,  o homem nunca mais conseguiu se libertar da dependência desta bengala de ter um ser Divino  de apoio espiritual em vida, bem como de consolo compensatório diante do medo dos mistérios da morte, optando por uma vida de niilismo neste mundo. Faz muito sentido...
Quanto à pragmática Fronteira do Ativismo Social, que envolve a política e suas ideologias, pelo o que consegui entender, é uma fronteira que ainda tem como sua estrela  maior a democracia, prática inventada na Antiguidade Grega. Em que pese as várias contestações havidas recentemente em praças públicas de diversos países europeus, e também nos EUA e no Brasil; para uma grande parcela  da população mundial ela recém começa a ser uma aspiração real a ser conquistada em revolucionários movimentos populares de rua a partir da chamada “Primavera Árabe”. Contudo, como democracia implica em políticos eleitos (que se profissionalizam na atraente carreira de quem  pode definir seus próprios salários), como eleição envolve altos custos financeiros que exigem cooptação de capitalistas para serem patrocinadores das campanhas, o sistema democrático se transformou em meras  disputas publicitárias da venda enganosa de um produto artificialmente maquiado, no caso, o candidato ao cargo político. A superação deste impasse do sistema democrático é a Fronteira do Ativismos Social em que atuam voluntários em ONGs por todo mundo, buscando canalizar diretamente para as comunidades carentes os recursos públicos, sem passarem necessariamente pelos abutres da burocracia e sem se desperdiçarem na politicagem do democratismo. Faz muito sentido também...
Sim, e daí? - Os quatro pensadores me perguntavam levantando as sobrancelhas e arqueando os ombros – Vemos que captou o essencial de cada proposição, mas qual é o veredicto: Quem vai pagar a conta?
...Não vou me omitir da missão que me foi dada, mas  antes quero  agradecer aos senhores por esta oportunidade que para mim foi uma lição que vai mudar a minha vida. Fundamentalmente compreendi que não existe o jornalismo neutro, saquei que uma reportagem ou assume a defesa de um lado para contestar os outros, ou não é notícia, é literatura. Esta sim pode contemplar igualmente todos os pontos de vista. Assim, os senhores me fizeram perceber que estou fazendo o curso errado. Não farei sobre este encontro um relato noticioso, farei um conto literário em que somos os personagens, nele reconhecerei a utilidade das “quatro fronteiras” para o homem pós-moderno globalizado. Tanto que vou imediatamente providenciar a minha transferência do Curso de Jornalismo para o de Letras. Portanto, o que faz mais sentido é eu  me declarar o vencedor deste debate, pois nele encontrei a melhor solução para o meu mundo. Como tal, vou pedir mais uma rodada de cervejas e pagar a conta de todos vocês, o que farei com muito prazer em comemoração ao meu avançar numa nova fronteira de aptidão!